terça-feira, 6 de maio de 2014

Desde 1997.

Foi como tomar um banho de chuva. Uma chuva torrencial, que pode deixar uma gripe ou um alívio. Foi essa sensação que tive quando voltei pra casa. Passar semanas acordando às 4 da manhã, cidades diferentes quase que diariamente, horas em vans. Era o que eu tinha, e sei o quanto eu quis aquela vida mais na prática é 670 gramas mais difícil. Viagens que obrigaram a me conhecer um pouco menos e me desconstruir um pouco mais. A testar a minha tolerância comigo e com o outro. Em cada cidade que chegávamos eu conhecia heróis e rainhas, eu ria e chorava, me emocionava a cada conto. Encontro. Ponto. Era alma. Partia. Pra resumir, eu uma exímia preguiçosa na arte de viajar, estava habitué de fronhas branco gelo. Não gosto de mudar, mas abro o meu peito, pálpebras e papilas para novidade. Logo gosto. Longo gosto. De mudanças eu só aturo as minhas quando são intempestivas caso contrário desisto, se não for de súbito. Eu mudei muito esse ano, aliás venho mudando muito desde 1997, precisamente. Exerço e abuso do meu direito de mudar, deixando claro que exige alta teor de concentração minha. Também tenho abusado do direito do não, porque devo confessar que o sim sempre me pareceu mais atraente. Mas o sim é simplório e nada, desde gente a versos me venham cobertos de pureza. Minha mãe me falava que algum dia da minha vida as sextas não iam ser tão atraentes e desejadas. Que o sábado seria um afago do corpo e que o domingo a inocência das manhãs e a xepa da feira. Eu acreditava que para isso eu teria que casar e ter filhos, um gato chamado Alexandre e um labrador chamado Walter. A verdade é que não precisei passar por nada disso, pra entender que aquela corou charmosa de sardas tinha toda razão. Ando pronta pra chegada, sabendo sempre da partida. Levo pouco na bagagem, afinal eu trago o mar dentro de mim e ele é espaçoso.